Sobre o que realmente é o Setembro Amarelo?

A resposta mais simples seria: “É sobre a prevenção do suicídio”. A campanha começou em 1994, quando os familiares de um jovem que se suicidou distribuiram cartões com fitas amarelas após o funeral, encorajando as pessoas a falarem sobre seus sentimentos e a pedirem ajuda.

Mas uma resposta mais completa depende de outra pergunta: “O que leva pessoas a se matarem?”

Ao menos duas coisas juntas levam alguém ao suicídio: Um sofrimento extremo e a desesperança de que esse sofrimento acabe em algum momento. E isso nos leva a uma pergunta ainda mais complicada, sem resposta certa: “O que causa o sofrimento e a desesperança?”

Uma explicação possível é a seguinte: Somos feitos de um corpo biológico; de uma mente psicológica; e estamos inseridos em uma sociedade com valores e costumes. Em cada uma dessas camadas, podemos sofrer. Quando necessidades fisiológicas não são atendidas, sentimos dor, desconforto, fome, sede, cansaço. Quando necessidades psicológicas são negligenciadas, sentimos tristeza, raiva, ansiedade, estresse. E quando não partilhamos dos costumes e valores das pessoas à nossa volta, corremos o risco de sermos excluídos – e de nos sentirmos isolados, humilhados, incompreendidos. Quando esses sofrimentos perduram, e ninguém parece entender ou ajudar, podemos perder as esperanças e acreditar que não há solução.

Os grupos em maior risco de suicídio são os que estão em maior vulnerabilidade – pessoas com depressão e outros transtornos, que consomem alcool em excesso, desempregados, aposentados, em situação de rua, povos indígenas, vítimas de abusos sexuais. Estes grupos sofrem sem perspectiva de melhora, não recebem o apoio do qual precisam, e ainda são menosprezados por grande parte da sociedade.

Portanto, temos que entender que isso é um problema estrutural – que depende de mudanças estruturais. Afinal, nem sempre temos as condições, como indivíduos, de providenciar moradia, comida, saúde, segurança e trabalho para alguém em necessidade. E no entanto, não há saúde mental sem que isso – o básico – seja garantido.

Dificilmente aprendemos sobre emoções, saúde ou transtornos mentais na escola. Ou sobre como cultivar laços de confiança e de apoio emocional. Essas são outras coisas importantes para reduzir a violência, o sofrimento, e o risco de suicídio. Mas dependem de projetos de lei para serem implementadas, e portanto, de engajamento político.

Apesar da proposta do Setembro Amarelo ser nobre e ter uma importante missão de conscientizar, a verdadeira mudança depende de uma luta por justiça social, que não será alcançada ao fim do mês.

Sobre o que é o Setembro Amarelo então? É sobre aprender. Sobre si mesmo e suas emoções, sobre como ouvir e se comunicar com os outros de forma saudável, mas, principalmente, sobre como gerar mudanças na sociedade, para ajudar aqueles menos privilegiados.

Por João Pavarina.

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